Um terremoto político acometeu São Carlos. Não que antes faltassem motivos para abalar as estruturas do poder local, mas a tempestade perfeita agora se formou e grandes mudanças são inevitáveis.
Com o agravamento do quadro de saúde do prefeito Airton Garcia, aquilo que já era precário tornou-se inviável. Uma cidade sem liderança, sem gestão, sem planejamento, um corpo acéfalo em meio a maior crise sanitária e econômica do último século. E quem paga a conta do caos, como sempre, é o povo, que fica sem médicos nas unidades de saúde; sem professores nas escolas; sem telhado nos prédios públicos; sem próteses dentárias; sem psiquiatras; sem nada daquilo de que, em verdade, teria direito – mesmo com bastante dinheiro em caixa nas mãos da prefeitura.
Em meio a esse quadro de insatisfação, desmonte e retrocesso, foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) proposta pelo vereador Paraná Filho (PSB) para apurar possíveis irregularidades cometidas por empresários e agentes públicos no que diz respeito à contratações irregulares, com fraude concorrencial, favorecimento, enriquecimento ilícito e outros crimes. Essa CPI foi batizada como “CPI da PROHAB” pelo fato de que os maiores volumes de recursos sob suspeita vieram da Progresso e Habitação de São Carlos S/A (PROHAB), uma sociedade de economia mista pertencente a administração indireta do município.
Na reta final da investigação, que foi instaurada em setembro de 2021, após a então relatora Raquel Auxiliadora (PT) renunciar a seu cargo, assume em seu lugar o vereador Djalma Nery (PSOL) e, em pouco mais de um mês, produz um relatório de 43 páginas que é protocolado nos primeiros dias de junho e aprovado por 4 votos a 1 no dia 11/07/2022.
Esse relatório aponta para a possível existência de um sofisticado esquema de corrupção perpetrado por empresários com facilitação direta e envolvimento de agentes políticos, incluindo o prefeito Airton, amigo íntimo de toda família da empresária Carla Helena Meassi, proprietária de uma empresa que prestou diversos serviços ao poder público, sempre com dispensa de licitação e orçamentos de cobertura repetidos de familiares e amigos. Além disso, diversos pagamentos foram feitos antes de que os serviços pudessem ter sido efetivamente realizados e, por vezes, autorizados pelo próprio marido da empresária, que desempenha função comissionada na Secretaria de Agricultura de São Carlos – um verdadeiro negócio em família, sustentando por recursos públicos oriundos dos impostos pagos pela população.
O relatório aprovado, robusto em seus indícios e farto em material comprobatório, foi despachado ao Ministério Público, ao Tribunal de Contas e está sendo convertido em Ação Popular e pedido de comissão processante junto ao poder legislativo. Ele chega em um contexto de profundo estremecimento das relações entre os poderes e de total desgaste de uma administração inoperante e, portanto, pode acabar sendo a gota que faltava para transbordar o copo.
Uma coisa é certa: nada será como antes. Acompanhemos as cenas dos próximos capítulos.
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