Ninguém aguenta mais tanta falta de água em São Carlos. Neste verão, famílias de diversos bairros chegaram a passar uma semana sem abastecimento em casa! O SAAE alega problemas em bombas e outros equipamentos, além de responsabilizar o alto consumo, por conta do calor, como os principais responsáveis. Mas honestamente, porque isso acontece e como resolver isso?
São Carlos é uma cidade com 250 mil habitantes e 117 mil ligações de água. Claro que não é fácil implementar e administrar um sistema de distribuição de água e coleta de esgoto pra tanta gente. Mas São Carlos, que é uma cidade rica, numa região privilegiada do Estado de SP, com tanta gente qualificada, com uma autarquia municipal importante que é o SAAE, tem indicadores que estão abaixo da média nacional na avaliação do serviço, como é o caso das perdas nas tubulações, algumas delas super antigas. A perda chega a quase 45% de água que é captada, tratada e distribuída, logo, com um custo pra fazer isso.
Mas aqueles que aparentam ser os piores problemas são a falta de investimento e de planejamento, principalmente no que diz respeito ao adensamento e a expansão territorial do município, que muitas vezes coloca as prioridades do mercado imobiliário acima do bem-estar e da capacidade local em termos de infraestrutura.
Quando o SAAE aponta o problema do aumento do consumo, ele atesta a própria incompetência em fazer o planejamento hídrico das regiões. O que ele está dizendo é que não se organizou para armazenar água suficiente (incluindo uma reserva de contingência, que é padrão) para atender aquela demanda e organizar uma logística nas épocas de pico como, por exemplo, no verão. Ou será que é surpresa pra alguém que no verão faz calor e aumenta o consumo?
Sobre a falta de investimento, o orçamento do SAAE aumentou de 174 milhões em 2023 para 264 milhões em 2024: 90 milhões a mais. Porém ele incorporou algumas funções que eram da Secretaria de Serviços Públicos, cujo antigo secretário, virou presidente do SAAE e, na prática, não houve um aumento real de investimento nas atividades originais da autarquia. Quando eles alegam que bombas queimaram e por isso faltou água, por que não existe um sistema de bombas reservas e uma equipe de prontidão para substituição? Ou é novidade pra alguém que acontece frequentemente de bombas queimarem?
Estamos falando, majoritariamente, de fenômenos e situações previsíveis para as quais o SAAE não se prepara! E quem paga a conta da irresponsabilidade e falta de planejamento é, pra variar, a população.
Algumas soluções possíveis são: garantir investimento real para substituição da tubulação antiga e reduzir as perdas; contratar mais gente e valorizar os servidores públicos da autarquia, e São Carlos tem recurso pra isso porque está longe de atingir o limite de despesa com pessoal previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal; construir novos reservatórios nas regiões mais críticas, como por exemplo, o grande Santa Felícia; comprar e armazenar equipamentos reserva para agilizar substituições quando necessário; implementar políticas públicas de reuso e armazenamento de água de chuva, o que ajuda também a combater as enchentes, problema grave de São Carlos; e, o principal, parar de imediatismo e de ceder às pressões da especulação e do mercado imobiliário e colocar a vida e os direitos das pessoas em primeiro lugar, e garantir um planejamento urbano de longo prazo, incluindo a questão hídrica como algo central.
A água é um bem essencial à vida. Ninguém pode passar 24h sem água, quem dirá uma semana. É DEVER do poder público garantir esse fornecimento constante.
No fim, não tem tanto segredo, se a prefeitura, ao invés de gastar 46 milhões de reais em recape; 25 milhões em subsídio pra transporte público para uma empresa péssima; 5 milhões com aumento de salário de prefeito, vice e secretários, entre tantas outras coisas não prioritárias, investisse naquilo que de fato importa como, por exemplo, garantir o abastecimento de água para população, seria possível melhorar bastante o cenário.
A população também tem um papel central neste panorama evitando o desperdício de água nas residências, comunicando a prefeitura sobre vazamentos e, principalmente, exigindo por meio de mobilização e por meio do processo democrático eleitoral que nossos administradores utilizem o orçamento público de forma responsável, com perspectiva e planejamento de longo prazo e não apenas visando resultados eleitorais imediatos.
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