Um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade no Século 21 é como lidar com a quantidade de resíduos sólidos gerada nas cidades. No Brasil, em 2016 foram gerados um total de quase 78,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos¹ isso equivale a aproximadamente 1,04 kg/hab./dia, segundo o relatório da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, 2017.

A situação no município de São Carlos não é diferente, segundo o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de 2020, a cidade destina cerca de 100 toneladas de resíduos orgânicos por dia ao aterro sanitário. Isso gera uma média de custo diário de aproximadamente R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais/dia), pago pelos cofres municipais. Recursos públicos que poderiam ser poupados e resíduos orgânicos que poderiam ser destinados para outras finalidades gerando riqueza e renda para o município.

Os gastos da Prefeitura Municipal de São Carlos com contratos na área de resíduos sólidos custam aos cofres públicos em torno de R$ 20 milhões/ano.

Sustentabilidade, alimentos e energia

As práticas mais modernas de gestão de resíduo urbanos possibilitam uma gama de alternativas, começando pelo aproveitamento energético dos fluxos, o que reduz a necessidade de disposição final. Também auxilia na questão da coleta, acondicionamento e transporte reduzindo o uso de caminhões e queima de combustíveis fósseis, além de diminuir o volume de rejeito enviado para aterros.

Como solução sustentável, a destinação destes resíduos podem passar por tratamentos como a compostagem (resíduos orgânicos) na qual o material gerado se transforma e pode ser aplicado como adubo e fertilizante na produção de novos alimentos, sendo uma solução de fácil aplicação em hortas urbanas.

Exemplo de horta urbana na região metropolitana de São Paulo.

Outra possibilidade para o tratamento é a biodigestão – uma técnica que transforma os resíduos orgânicos, extraindo e armazenando dos mesmos o chamado biogás. Um trabalho desenvolvido na UFRJ estimou que a queima do biogás gerado a partir da biodigestão dos resíduos do Restaurante Universitário Central seria capaz de produzir aproximadamente 177,6 KWh/dia de eletricidade (MOURA, 2017). Segundo o trabalho, a eletricidade total gerada em um mês poderia suprir a demanda de aproximadamente 33 casas de acordo com o consumo médio mensal residencial em 2015 (MOURA, 2017).

Propostas para São Carlos SP

Refletindo no potencial negligenciado da matéria orgânica e nos resíduos sólidos em geral, nosso Mandato Popular Coletivo, apresentou como propostas:

  • Reativação da horta municipal e um programa de hortas comunitárias em terrenos ociosos;
  • Retomar o projeto de compostagem na horta municipal;
  • Apoiar a cooperativa de material de catadores de materiais recicláveis;
  • Fortalecer e criar mais ecopontos pela cidade.

São muitos os exemplos neste sentido que tem mostrado excelentes resultados em diversos âmbitos, sempre com apoio, suporte ou articulação junto ao poder público. Podemos citar o projeto Composta São Paulo (SP) ou a Revolução dos Baldinhos (Florianópolis – SC).

Em São Carlos, o projeto Semeia Compostagem e o GIRO, da Associação Veracidade, também é um modelo a ser seguido.

Produção de alimentos de qualidade exigem uma adubação orgânica de qualidade!

Fontes: http://www.saocarlos.sp.gov.br/files/plano-municipal-de-gestao-integrada-de-residuos-solidos.pdf
MOURA, R. – Avaliação do Potencial de Geração de Energia a partir dos Resíduos Orgânicos do Restaurante universitário Central da UFRJ. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2017.


¹De acordo com o estabelecido na PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei nº 12.305/2010 – (BRASIL, 2010), resíduo sólido urbano é qualquer resíduo originário de atividade doméstica (domiciliar) em residências urbanas ou originário de varrição ou limpeza de logradouros e vias públicas.


*Vitor Augusto L. Camacho é Geógrafo (UNESP), Técnico Florestal, Esp. em Geotecnologias e Mestrando em Ciências Ambientais (UFSCar). Realiza pesquisas com os seguintes temas sobre espaço urbano, meio ambiente, geotecnologias, geopolítica, cartografias e políticas públicas.
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